Arquivo do blog

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

MARCELO GIRARD

VIII MOSTRA DE POESIA CONTEMPORÂNEA DA APPERJ, 2025

MANEL BERRA-BOI – 

Muita boa noite!
Meu nome é berra-boi.
Sofrido de açoite
Vou contar como é que foi
Que cheguei no Rio de Janeiro
Quase trinta de fevereiro.
Quando aportei
Fui logo parar na tal favela
Num é que reparei que tinha mais paraíba
Que bandido nela…
Como bom sertanejo
Sem dinheiro e muito gracejo
Aluguei um barraco
Fazido de taubua de buraco.
Com as miudezas da economia
Comprei um pacote de bananada
Pra ganhar um faz me ria.
E pertinho da noite, escuriando o tempo,
Conheci um rabo de saia
Que me deu um alento!
Ô mulher arretada sô!
Arrebentou minha fimose.
Me deu um arreio de dor
Mas que preta, que lordose!

Morena flor, assim queu chamava ela.
E ela verbalava
— Te amo minha anta!
Arruma a casa, lava as panelas, faz a janta.
oxi ! Essa mulher é uma santa!
Fui indo e avivendo.
Pois, pois, montei uma barraquinha de doce.
Um dia, um frangote, um fedelho
Como se fosse dono do pedaço
Mandou eu vender um troço
Pra deixar o olho vermelho.

Na primeira vez que fiz a venda gritei:
— Ó meu Padim Ciço, que é que eu fiz?
O homem pegou a farinha e botou no nariz.
O moço saiu gritando todo feliz.
Eu disse: Arre égua!
O homem virou baitola, soltou as prega!
Depois me dei conta
Que tudo que é carioca
Gosta da tapioca que deixa tonta
Ai, me assosseguei, sabe.
Comecei a vender muitcho.
Só parava carro bonito
E filho de rico.
E minha mulher sempre dizendo:
— Homem... Riqueza nesse negócio
É quando o outro tá morrendo.
Tô ganhando, Tô vivendo.

Fui pro boteco tomar umas pinga
De susto chegou a puliça.
— Pronto! Vou perder meu ponto!
Pra que eu saí da minha terra
Pobre em qualquer lugar se ferra.
Punhei o resto no bolso
Pra garantir a semana
Fiquei feito caçamba sem poço.
— Jerimum tu tá em cana!
— Bebo não seu moço.
— Palhaçada Paraíba!
Perdeu, passa a grana!
— Aí que foi me entortei de vez
Saí correndo até a sombra se perder.
Meteram o pipoco, corri feito louco.
E roguei:
— Me livrai dessa. Nossa Senhora do Sufoco
Que serei teu da raiz até o coco.

Num repente, credo em cruz.
Desceu uma luz... Do céu
Uma voz dizendo:
— Não tá na tua hora Manuel.
— É isso mermo que eu tô vendo?!
— Sim, sou eu, volta pro teu corpo.
Tá cheio de ―inocente‖ aqui no beleléu.
Meti os cambitos e aqui tô eu.
Muito prazer, Manel Berra-boi.
Já tive no céu
Mas, não sei como foi.

AUTOR: Marcelo Girard
Jornalista | Poeta | Radialista

Nenhum comentário:

Postar um comentário