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domingo, 16 de novembro de 2025

SUZANA JORGE

VIII MOSTRA DE POESIA CONTEMPORÂNEA DA APPERJ 2025

VÊ SE VERSA
(Suzana Jorge, para Tanussi Cardoso)


Vê se versa
O verso de Lorca nos loucos
O verso de sangue nas cartas
O verso das costas do verso
O verso de frente pro nada
O verso do olho no olho
O verso dos pés pelas mãos
O verso da fossa e do fosse
O verso da pluma e do cão
Vê se borda
O olho na lama da asa
O vulto no torto do olho
O transe no samba do pé
O suco no pé de caroço
O olho na voz de pescoço
O molho na língua ferida
O salto na data esquecida
O sono no chá de café
Vê se aplaude
O verso de Eugénio
Que a morna cantou
O verso de Neto
Que Angola penou
O verso de Vasco
Que Guiné exaltou
O verso Gusmão
Que o Timor libertou
O verso atilado
Que Francisco cunhou nos mares
Pessoa pintou nas almas
José Craveirinha no ar
Vê se versa
O verso de Frida
Que ninguém abortou
O verso de Pablo
Que o carteiro selou
O verso de Allende
Que o trauma exilou
O verso Mistral
Que a tristeza beijou
O verso afiado
Que Gullar guardou no açucar
Bandeira queimou nos brônquios
Tanussi cravou no olhar




Suzana Jorge. Poeta, professora, revisora e consultora textual. Autora de Textura
Carioca (2017), Perfume de Asfalto (2021) e silhueta fluida (2024). Coautora em
diversas antologias. Integrante da APPERJ, do CEDILHA e da ASOL. Em processo
de edição do quarto livro solo, ventou clarice: metalinguagem e mistérios reveladores
do irrotulável.

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