VIII MOSTRA DE POESIA CONTEMPORÂNEA - 2025
O rio que falta e o Rio que sobra
um rio passou em minha poesia
escorria magro, sertanejo,
riacho tímido, quase suspiro,
mas ainda assim lavava a alma e pés rachados
corria humilde, sem precisar de elogios.
um Rio também quis entrar no poema,
todo cheio de si, com desejo bronzeado
cheirando a esgoto debaixo do calçadão,
vendendo sol e bala perdida no mesmo pacote.
lá, a praia é vitrine, o morro é ferida,
o turista brinda e o favelado sangra.
meu rio pede chuva e silêncio,
o Rio pede holofote e aplauso.
meu rio pede nuvem e justiça do céu
o Rio pede marketing e selfie no pôr do sol.
um se orgulha de correr para o mar,
o outro insiste em engarrafar até a brisa.
no sertão, o rio morre de sede;
na metrópole, o Rio morre de excesso.
e ambos são lembrados por tragédias:
seca no nordeste, enchente no cartão-postal.
e eu, poeta, rio dos dois:
do riacho que não desiste,
e do Rio maravilha,
lindo no postal,
mas que não lava o próprio sangue da calçada.
Val Mello
Multiartista piauiense, poeta, ilustradora com textos publicados em dezenas de coletâneas no Brasil e no Exterior, é administradora de empresas, MBA em Gestão de qualidade, pós graduada em Moda-arte , especializada em croquis femininos. Recebeu o Prêmio Manuel Bandeira de Poesia pela União Brasileira de Escritores em 2022, em 2024 Prêmio Ecos da Literatura - categoria melhor Ilustração de Livro Infantil, . É quadrinista da série Hestrânhuz. Autora de 4 livros, sendo um em coautoria. Seu mais recente livro intitulado À sombra dos Carcarás, a obra de coragem e pertencimento, uma travessia entre o Nordeste ancestral , o Brasil e as muitas paisagens que a habita. Integra o grupo Poesia Simplesmente é diretora da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro)

Aqui é a Sandra Lima. Val sempre maravilhosa em tudo .
ResponderExcluirTexto maravilhoso!!
ResponderExcluir